15 Anos de Computação Gráfica
Roberto Klein, Arquiteto, Setembro de 1998
Introdução
O desejo de usar o computador como ferramenta de projeto veio já no primeiro ano de faculdade em 1978. Durante uma pesquisa para um trabalho na biblioteca da FAU tomei contato com a experiência pioneira do escritório americano Skidmore, Owings & Merril que já no fim dos anos 60 começara a utilizar a computação gráfica. As imagens do livro mostravam uma simulação em 3D do centro de Chicago com os principais arranha-céus projetados pela SOM. Mas o sonho parecia distante. A SOM empregava computadores de grande porte além de manter uma equipe multidisciplinar de arquitetos, matemáticos e programadores dentro do próprio escritório para o desenvolvimento dos programas, recursos dificilmente acessíveis a arquitetos brasileiros.
Ainda durante o quarto ano da FAU em 1981 decidimos montar uma oficina para a confecção de maquetes tradicionais. Juntamente com outros cinco colegas de turma aluguei um pequeno sobrado no bairro de Pinheiros ao qual batizamos carinhosamente "A Casinha". Mais do que uma simples oficina de maquetes, "A Casinha" funcionava como um espaço para discussão intelectual. Foi neste ateliê que começaram a amadurecer nossas primeiras idéias sobre computação gráfica. Poucas semanas após nossa formatura em fevereiro de 1983 Sérgio Mancini, um de meus companheiros de ateliê, trouxe um livro sobre desenho animado. Curiosamente o último capítulo do livro falava sobre as possibilidades do uso de computação gráfica, apresentando os conceitos matemáticos necessários para o cálculo analítico da perpectiva. Estudando o capítulo percebi que poderia reduzir aquelas inúmeras multiplicações de matrizes a apenas duas expressões algébricas. Assim me pus a desenvolver um programa de cálculo analítico de perspectiva para uma calculadora programável.
Minha calculadora na época era uma Texas TI 57 com 49 passos de programação e apenas 7 memórias numéricas. Depois de alguns dias consegui finalmente simplificar o processo de modo que o programa coubesse na calculadora. Seu funcionamento era bastante simples e direto. Primeiro era preciso montar uma tabela de coordenadas em 3D (x, y ,z) representando os vértices do objeto a ser representado. Em seguida introduzia-se na calculadora as coordenadas do observador, prezumindo que este estava olhando para a origem do sistema (0, 0, 0). Para obter vértice em perspectiva bastava introduzir suas coordenadas na memória da claculadora. Imediatamente o programa respondia com o par de coordenadas (x, y) projetadas sobre o plano bi-dimensional. Desta formaera possível montar uma segunda tabela agora com as coordenadas projetadas. Finalmente bastava lançar estes vértices sobre um papel milimetrado e liga-los formando as arestas do objeto.
O programa da calculadora serviu basicamente para provar que a geração de perspectivas por meios matemáticos era uma coisa viável. Ficamos tão entusiasmados que resolvemos prosseguir. Naquele tempo os programas de computação gráfica disponíveis para computadores pessoais além de raros tinham sua importação restrita em função da fechada política de informática que se praticava no Brasil. Os únicos sistema de CAD com representação no país, Intergraph e Computervision, operavam em minicomputadores e custavam da ordem de US$ 300.000,00. Se quiséssemos continuar seria preciso desevolver nosso próprio software. Dividimos os investimentos. Sérgio que possuía algumas economias tratou de comprar um computador. Eu que tinha mais inclinação para a matemática decidi freqüentar um curso de programação na linguagem Basic.
O computador de Sérgio era um Microdigital TK85, clone do Timex Sinclair inglês, com 16 Kb de RAM, teclado de borracha e utilizava um aparelho de TV como monitor. Levamos algumas semanas para traduzir o programa perspectiva para o dialeto Basic daquele computador. De fato o programa funcionava. Lentamente, com péssima qualidade gráfica mas funcionava. Logo percebemos que havíamos subdimensionado o equipamento. Em junho de 1983 foi minha vez de investir num computador. Comprei um Apple II+ com 48 Kb de RAM. Em alguns dias adaptei o programa de perspecitva para o dialeto Basic do Apple. O Apple além de bem mais rápido, apresentava melhor definição gráfica. Mas ainda era preciso introduzir as coordenadas dos objetos numericamente pelo teclado. A partir de então passei a dedicar todo o meu tempo livre ao desenvolvimento de um editor tridimensional, tarefa que levaria quase um ano para concluir.
Os primeiros trabalhos profissionais